O que escrever sobre um livro tão
falado e recomendado, principalmente depois da invasão dos realities shows? Lembro-me que, quando lançaram a primeira edição
do programa Big Brother Brasil (em
2002), a obra foi exaustivamente
discutida nos meios acadêmicos e de comunicação por ter sido considerado uma
antevisão do futuro: um mundo onde todos são vigiados por câmeras.

O Estado controlava todos os
passos através de patrulha policial e da “teletela”, que funcionava como câmera
de vigilância e televisão, para transmitir a programação oficial do governo. E, em todas as partes, havia um pôster com um
rosto enorme, com os olhos que pareciam acompanhar sempre que alguém se movesse,
e com a frase: “O Grande Irmão (no original, Big Brother) está de olho em você”. Por hábito e instinto, acreditava-se
que todo som emitido era ouvido e, se a escuridão não fosse completa, todo
movimento examinado meticulosamente.
E esse domínio absoluto gerou uma
nação de fanáticos sincronizados, todos pensando os mesmos pensamentos e
bradando os mesmos slogans. Um lugar onde não se tinha amigos, o casamento só
era necessário para gerar filhos que servissem ao Partido e viver um amor
verdadeiro era impensável. E todo aquele que discordasse das ideias e ações do
governo desaparecia, sem julgamento ou registro de prisão. Seu nome era
removido dos arquivos e sua existência negada.
Funcionário do Ministério da
Verdade – responsável pelas informações -, Winston é o encarregado de eternizar
a propaganda do regime através da falsificação de documentos, jornais e livros a
fim de que o governo sempre estivesse correto no que fazia. Se o Partido se
aliasse a um país que era seu inimigo no passado, apagava-se e alterava todos os
registros anteriores.
Com as constantes alterações do
passado e as coibições, Winston passa a ansiar por verdade e liberdade e começa
uma revolta romântica e anárquica contra o sistema – escrevendo em um diário, apaixonado-se
por sua colega de trabalho e se envolvendo com uma organização revolucionária
secreta.
O livro, até esse ponto, é dinâmico e instigante. Ficava torcendo para que o personagem
conseguisse rebelar o país e que seus habitantes saíssem da impassibilidade. Mas
o autor tornou-se repetitivo e os atos dos personagens muito esmiuçados. E o
interesse foi minguando. Graças ao incentivo do meu namorado (que tinha lido
anteriormente e disse que, após a parte maçante, o estímulo voltaria), persisti
e tornei a me impressionar com a escrita e a habilidade que George Orwell teve
de retratar tão perfeitamente uma sociedade dominada pelo governo e sua a crescente
invasão sobre os direitos do indivíduo.
Quando foi lançado, muitos interpretaram
1984 como uma crítica devastadora aos governos nazistas, fascistas e comunistas
que ainda persistiam na Europa e Ásia. Sessenta anos depois, o livro ainda se
mostra atual e nos impõe uma poderosa reflexão sobre a busca incansável pelo
poder e os excessos comentidos para alcançá-lo.
O poder pelo poder, a procura
pelo domínio incontestável, a subserviência e a apatia dos indivíduos soam como
alerta para a nossa sociedade - cada vez mais refém de condomínios fechados e câmeras
-, que almeja a segurança em detrimento da individualidade e liberdade.
E essa leitura me fez lembrar uma das grandes
composições de Chico Buarque, “Apesar de você”:
"Hoje você é quem manda
Falou, tá falado
Não tem discussão
A minha gente hoje anda
Falando de lado
E olhando pro chão, viu
Você que inventou esse Estado
Inventou de inventar
Toda escuridão
Você que inventou o pecado
Esqueceu-se de inventar
O perdão...".
Espero que esses rabiscos sobre
1984 sejam um retorno permanente, e que eu não me perca e não abafe o interesse
por esse espaço tão libertador e aconchegante. Até.
Ficha
técnica:
1984
Autor: George Orwell
Editora Companhia das Letras
Ano: 2009 - 7ª reimpressão (1ª edição em 1949)
Si, si.. aqui é o Isaque do "contos de um esquizofrênico". Deu saudade do seu antigo blog. Parece que não existe mais, certo? Uma pena...
ResponderExcluirSi... Então, abri um sorriso quando vi seu comentário! Saudades sim e não pare de escrever, não faça igual a mim! Hahah
ResponderExcluirAh, me passa seu e-mail poxa vida! Já que você não escreve mais podemos nos comunicar por e-mail.
Bjs!